Naquela noite eu senti frio...

Era uma noite típica de julho, chuvosa e gelada, só tinha uma pessoa capaz de me fazer ignorar a preguiça e sair de casa. Vesti uma espécie de kimono de lã de cor clara combinando com minha touca que deixava a franja a mostra. Fui encontrar com ele pela segunda vez após meses. Olhava pela janela do ônibus enquanto via passar flashes da primeira vez, lembrava do gosto, do cheiro, da sensação de estar na presença dele e né sentir apreciada, do medo, tardio, de me apaixonar. Lembro dele deixar eu perguntar sobre o significado o Maori que ele tinha no braço ainda incompleto, enquanto eu reparava na totalidade da sua beleza que vinha de dentro pra fora, e pensava " Deus, que caminho longo". O celular vibrava, era ele que me perguntava onde eu estava a todo tempo pra poder me encontrar. Eu havia estado naquela estação há anos e lembro de ter odiado e desejado nunca mais precisar voltar, e ironicamente eu voltei e estava feliz, só posso concluir que " todo caminho pode ser bom, depende de quem você irá encontrar do outro lado da rua" e eu ansiava por meses, depois de mensagens trocadas, desejos e sentimentos compartilhados a distância, só queria reviver um pouquinho. Enquanto o esperava fui me distrair na banca de revistas, achei algo que prendeu a leitura, meus olhos vagaram por um instante pra fora da banca, e ele estava ali, imóvel, olhando e sorrindo como se pudesse ficar por mais tempo, sinto que teria ficado se não o tivesse visto. Eu sorri pra ele e me senti meio boba, como pude me distrair tanto e não dar conta de que ele já havia chegado? Fui até ele e questionei "por que não me chamou?", e ele apenas " você está linda, parece uma gringa"- aquele abraço, sem pressa, quentinho... 

Caminhamos vagarosamente, ele tinha um jeito despreocupado e simples de ser, no meio do caminho ele me interrompe, me gira como em um passo de dança e me pede mais um abraço, " vem cá, me dá mais um abraço, eu tava com muita saudade". No quarto dele havia um teclado pronto pra ser tocado a qualquer hora, no meio das roupas bagunçadas havia uma atmosfera artística, Bohemia e solitária, com uma latinha de cerveja que poderia ser daquele dia ou de dias atrás, um maço de cigarro, a imagem do Buda e incenso. A luz era amarela, bem baixinha e aconchegante, era o quarto típico de estudante. Ele sempre foi um mistério pra mim, havia um limite que ele me permitia chegar, sempre senti que nunca o conheceria de verdade. Naquela noite nossa troca foi menos fervorosa e mais intimista, mais carinhosa e me deixou com mais medo, medo de me apegar ao que não teria constantemente dele. O som da chuva se misturava com o Chet Faker e nossas risadas. 

Naqueles braços eu dormi, logo eu que não suporto dormir com outra pessoa, que sofro de insônia, com ele eu dormi... Ele me fez deitar no seu peito e me envolveu nos seus braços. 
Eu queria mais vezes daquilo, e sabia que não teria. Ao acordar não queria sair daquele casulo quente e aconchegante, agora, aquela hora que estava lenta, parecia  correr como em uma ampulheta. Que preguiça mútua, nos atrasamos levados pelo som da chuva, nossos corpos quentes e carícias, não sabia quando voltaríamos a nos ver. Com muito custo levantamos, meu cabelo curto e loiro tingido precisava de um reparo, eu tentava arrumar no espelho quando ele, de forma carinhosa, pegou uma pomada e ajeitou o meu cabelo, e eu senti meu coração pulsar por ele, em um ritmo de valsa meu coração dançava, e eu pensava "droga, nãoe faz te amar". Fui embora, atrasada pro trabalho, e com a saudade que já se formava no meu peito. Eu queria mais...

De noite naquele dia eu senti frio e não consegui dormir. E a saudade, a saudade é tudo o que me restou. 

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