Perdida no tempo

Pra aquele endereço eu voltei algumas vezes, não me lembro a ordem ou o número exato, talvez 3 ou 4, devo ter dormido umas 2, e não me recordo a ordem certa. Cada uma delas me marcou de um jeito. 
Teve a vez que ficamos vendo filme no sofá com os colegas dele da faculdade e ele me fez cócegas no pescoço. A vez que eu passei a noite e tirei as fotos que ele usou em muitos materiais, a que eu sumi no pé da escada porque minha touca havia caído e voltei pra pegar, então quando entrei ele estava com a cara assustada parado no meio do caminho e riu como sempre, ele me via e seu sorriso abria seguido de uma gargalhada gostosa. 

A penúltima eu jurei não voltar mais pois ele me deixou vulnerável. Me questionou sobre eu me sentir sozinha as vezes e eu me abri. Eu já não queria mais voltar, ali eu havia decidido não voltar pra poder ter um relacionamento de verdade com alguém.  A última ele sumiu dentro de um metrô. Ele tinha um compromisso mas não quis me deixar saber pra onde e com quem, eu havia invadido o seu quarto depois de um dia de foto, mesmo depois de ter decidido não voltar mais, mas ele estava ali, a dez passo de distância deitado e coberto, eu pensei como a vida é curta e que eu não poderia perder a chance de ficar com ele mais uns minutos naquele dia chuvoso e preguicoso. Este dia foi especial e merece um texto a parte. A questão é que ele correu na minha frente pra pegar o metrô porque se atrasou por minha causa rsrs. 

Eu não voltei mais depois, eu queria aquilo, aquela intimidade de poder conversar deitado no escuro, ficar com preguiça ouvindo trilha sonora de My Blueberry Nights, dar cochilos e acordar com um beijo no rosto, e queria a constância naquilo, o que ele não me proporcionaria, e eu não ousaria pedir. Ele era um pássaro, e pássaros vivem livres, não podia por ele em uma gaiola. 

Um dia ele me mostrou uma casa que queria alugar, depois de dias sem nós falarmos ele apareceu e queria minha opinião sobre o lugar, era uma casa fofa, com um pequeno jardim, plantas e ainda me disse que tinham "doguinhos", e me fala " só queria um verdinho e uns doguinhos", aquilo quase me fez sonhar com a possibilidade de um dia ele acalmar e desejar uma família com casa, grama e cachorro. 

" Quando você se sentir assim, lembre-se que tem alguém aqui só mandando energias boas pra ti", foi isso que ele falou quando eu quase chorei na padaria, antes mesmo de eu tomar café. E eu fiquei com raiva. Eu não queria só energias, eu queria uma presença física. 
Como eu queria agora saber que ele está por aí criando música, surfando, namorando, sendo feliz, sendo ele. Agora ele deixou este vazio, este buraco com o nome dele que eu tento preencher com estes textos, pra me fazer superar e respeitar sua vontade. 

A única coisa certa na cronologia é o fim. 
Não consigo dizer adeus.

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